7 de set. de 2022

Como é ruim ser tio antes dos 30!

Principal alvo dos tios

Uma coisa que é muito diferente na minha geração para as anteriores é ser tio. Primeiro porque já entendemos que é errado comer o sobrinho. E segundo porque, aparentemente, levar a sobrinha na reunião de pais e perguntar pra tia (professora) se ela está procurando um tio é algo não muito bem-visto dentro da escola. Eu sou tio e padrinho. Na minha cabeça eu estava fudido, porque se me perguntassem qual era a função do padrinho, eu iria falar: dar presentes caros. E eu sempre fui pão duro, comprei o ps1 quando lançou o ps3 e o ps2 quando lançou o ps4, mas agora vou ter que pagar 300 reais em uma boneca que mija na fralda, toma remédio e fala que tá com vontade de dormir... eu tô quase indo num asilo e perguntando se algum idoso se habilita a entrar numa caixa e virar presente pra uma criança.

Mas eu descobri que eu tô mais fudido ainda, porque a função do padrinho é ser o guardião da criança, caso os pais dela morram. Isso quer dizer que eu passo a vida inteira gastando grana com camisinha, cagando pra dst, mas pra não ter filho tendo mais cuidado que o Porchat pra ninguém descobrir que ele é gay, e se eles morrerem, eu me torno pai de uma criança? A partir daí eu deixei de ser pão duro. Quer saber: já que sou padrinho, vou investir, tomar todos os cuidados e demonstrar atenção. Por isso eu contratei seguranças particulares para os pais da criança. Eles não podem morrer de jeito nenhum! Outro dia eles queriam saltar de paraquedas e eu falei: tem certeza? Vocês não preferem andar de patinete elétrico na praia? Dizem que a adrenalina é a mesma.

Outra coisa que torna diferente ser tio entre a minha geração e as anteriores é a habilidade com crianças. Eu não tenho filhos, não tenho experiência alguma. Então, eu sou todo cauteloso, se a minha sobrinha de quatro anos, sentada no chão, levanta a mão, eu já falo pra ela abaixar porque pode pegar no ventilador de teto. O meu tio já era diferente pela experiência, pois ele tinha 4 filhos, então se a gente falava “tio, quero fazer cocô”, ele falava “foda-se”. “Tio, quero sorvete”, ele falava “por acaso tenho cara de sorveteiro?”. "Tio, meu bumbum tá doendo", ele falava "na próxima vou ter mais cuidado". E só de imaginar que com a minha idade ele tinha 4 filhos, eu logo penso: “não é possível a pessoa por vontade própria ter 4 filhos aos 30 anos...ele deve ter sido padrinho de 4 crianças e morreram todos os pais". É a única explicação plausível.

E aí um sinal que você, tio da nova geração, está ficando velho, é quando você não conhece mais os desenhos e heróis dessa geração. A minha geração tem como heróis o Batman e o seu batmóvel, Homem-aranha e suas teias, o da minha sobrinha é a Peppa Pig. É um porquinho rosa que ensina a ter uma vida boa em família. Que porra é essa? Desenho foi feito pra você aprender que o certo é dar um murro no amigo que ganhou de você no par ou ímpar na escola. Peppa Pig vai ensinar o que? Que se alguém deixar o dinheiro cair, você devolve? Que valores são esses?

E por falar em valores, a melhor notícia de todas é que quando a minha sobrinha fizer 18 anos, as amigas dela também farão 18 anos. O que isso significa? Mais uma geração pra me rejeitar e falar "nem fudendo" com cara de nojo. Aliás, por que essa repulsa das amigas da sobrinha pelo tio? Será que elas pensam que você é antiquado e elas vão passar vergonha? "Meô, a gente fuma pen drive, seu tio vai chegar aqui fumando um disquete e a gente fica como?"

Ok, talvez eu já esteja dando motivos para futuramente ser tratado assim. Dia desses perguntaram o que eu achava da "Farofa da GKay" e eu falei que não conhecia, mas que poderia experimentar com um feijão tropeiro. Se hoje já estou desantenado assim, daqui 18 anos é capaz de eu falar que estou conhecendo o trabalho da Larissa Manoela e ela estar sendo considerada a nova Susana Vieira. 

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