Hellraiser: o vilão Pinhead após sair da sua sessão de acupuntura |
Assistir a um filme de comédia
romântica com o seu par romântico requer algo que você nunca deu ao seu
parceiro (a): atenção. O ato de assistir a um filme do gênero com o cônjuge requer
uma série de procedimentos para evitar que, ao final, o silêncio não tome conta
do carro quando vocês forem embora do cinema porque você não é tão romântico quanto o
Ashton Kutcher. É primordial que você faça uma lista de datas e momentos
importantes que vocês viveram, pois o filme vai exibir uma série de cenas que vai
exigir que você esteja atento no momento em que seu parceiro (a) falar: lembra
quando fizemos isso também? E este tipo de situação é algo que você não irá
passar em uma sessão de filme de terror, onde apenas a extensão do seu ombro é
necessária para abrigar a pessoa amada.
Você que não está acostumado a
assistir filmes de terror, prepare-se para entrar em um universo onde o clichê
não tem vez e, independentemente do filme que você escolher do gênero, sempre
terá uma cidade pacata, um carro que vai enguiçar em uma noite chuvosa e uma
loira com um poder de atuação igual ou levemente superior ao Neymar em La Casa
de Papel.
A principal vantagem dos filmes
de terror em relação aos demais gêneros é a representatividade que ele
proporciona. Se você, mulher negra, está cansada de não enxergar nas comédias
românticas, onde só os brancos amam, mulheres negras em papeis relevantes, nos
filmes de terror essa representatividade existe e é cada vez mais presente.
Neles é muito comum ver atrizes negras assumindo papéis de empregada, escrava e
amiga barraqueira ou interesseira, sempre sendo dirigidas por um renomadíssimo diretor
branco recém saído da faculdade.
Já uma característica que você vai
encontrar nas comédias românticas, mas não nos filmes de terror, é a fofura dos
protagonistas. O protagonista das películas de horror sempre é feio,
asqueroso e tem um nome legal, como Leatherface, Jigsaw e Whindersson. E isso é
digno de denúncia e investigação! Se o vilão se chamasse “Coelho Feliz” ou “Danadinho,
o boneco da vovó”, certamente o número de casos envolvendo serial killer iria
diminuir, porque ninguém ia querer ter um apelido tão feio e bobo estampado
nos jornais.
À propósito, este é outro ponto que você leitor (a) precisa estar ciente: o boneco é uma entidade maligna. Não sei bem explicar o porquê, mas os autores de terror consideram este brinquedo um objeto assustador. Annabelle, Chucky e Maísa estão aí e não me deixam mentir. Você não verá um filme sobre sabonetes assassinos. O gênero, desde os tempos mais primórdios, proporciona essa alteração no senso comum em relação a personagens da nossa sociedade. Bonecos, freiras e meninas órfãs, que usualmente são associadas a imagens pacificas, ganham um aspecto pernicioso nos filmes do gênero. Os filmes de terror transformaram a experiência de ir à um orfanato, conversar com uma freira e adotar uma menina com uma boneca em uma experiência mais assustadora que assistir ao carnaval da Rede TV.
Tais filmes costumam ditar quem será demonizado pela sociedade, recaindo sempre sobre nichos fragilizados. Confesso, como escritor, que fiquei preocupado quando assisti “Hush: A Morte Ouve” que diretores estivessem focados em colocar escritores como a próxima vítima dos psicopatas, como fizeram com jovens em férias e famílias que vivem à beira do lago. Mas esse sentimento logo passou quando, nos primeiros 15 minutos de filme, eu tive a certeza que ninguém iria conseguir assistir até o final. Se você curte o gênero e ainda não assistiu ao filme em questão, não perca tempo e vá correndo aprender a fazer slime ou jogar canastra com o seu avô, é muito mais produtivo.
Caso você não se sinta pronto
para assistir filmes violentos, uma vertente dentro do terror que está ganhando
popularidade é o terror-malhação, protagonizado por adolescentes e feito para
adultos que têm Tik Tok e fazem testes no BuzzFeed. O filme IT: A Coisa e a série
Stranger Things são exemplos de produções feitas para pessoas que querem
assistir filme de terror e não sentir medo. É o mesmo que assistir um filme de
comédia sem querer rir ou um filme erótico da Gretchen sem querer vomitar, não
faz sentido.
Apesar dessa aparente dicotomia
entre filmes românticos e de terror, ambos estão conectados pela riqueza em
emoções transmitidas através de suas cenas. Figuras lendárias como Alfred Hitchcock
e Woody Allen provaram inúmeras vezes que é possível fazer cinema de qualidade
em ambos os gêneros e, com isso, alcançar seus principais objetivos em suas carreiras:
serem citados por jovens que querem impressionar sem nunca ter assistido um
filme sequer e acham que Vicky Cristina Barcelona é o mais novo single
da Lady Gaga.
Portanto, caro (a) leitor (a), tenha ciência que o medo ao assistir tais películas é algo comum e inerente ao espectador. Um pensamento recorrente em um primeiro momento é imaginar que você será a próxima vítima. Por isso indico que você pare de assistir esses filmes de comédia romântica temáticos de casamento e migre logo – enquanto há tempo – para os filmes de terror.
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